A discussão sobre a privatização dos Correios vem crescendo nos últimos meses com a intenção do Governo Federal de vender a empresa, reforçada pela informação do Ministério das Comunicações de que grupos como Magazine Luiza, DHL e Fedex estão interessados na aquisição.
Além disso, as queixas aumentaram consideravelmente: de acordo com o Procon-SP, as reclamações contra os serviços de entrega aumentaram 400% na pandemia.
A proposta é levantar recursos para a União, mas a venda de uma companhia estatal como essa não é tão simples assim.
A privatização dos Correios demandará um estudo amplo e com muito debate antes de ser colocada em prática.
Não é uma tarefa fácil porque os Correios detêm serviços essencialmente pessoais, que não poderiam se limitar a atender capitais e grandes centros urbanos. Ainda é uma grande incógnita.
E antes de qualquer processo de privatização, para que ocorra uma alienação à iniciativa privada nacional ou estrangeira, a Constituição Federal teria que ser alterada em seu Artigo 21, Inciso X.
Porque os serviços postais são monopólio do Governo Federal, ainda que o perfil da companhia tenha mudado muito nos últimos 20 anos, atualmente muito mais voltada aos serviços de e-commerce.
Além da questão legal e constitucional, o processo é demorado porque as ofertas serão cotadas em bolsa e as empresas interessadas deverão estar com capital legalizado dentro do país.
Tivemos diversas empresas que foram privatizadas, nas quais companhias estrangeiras acabaram comprando, como as de telefonia, trazendo ampliação de ofertas e incremento de tecnologia.
Seja qual for o cenário, fato é que os Correios precisam de atualização para atender à demanda cada vez maior dos consumidores por uma logística de qualidade.
Para permanecer como estatal e retornar à antiga eficiência e competitividade, os Correios teriam que passar por uma grande reformulação econômica e administrativa.
É preciso mesclar a utilização de novas técnicas extraídas de modelos da iniciativa privada. Assim como uma adequação às novas tecnologias, passando provavelmente por uma readequação dos preços.
O que resultaria no fechamento de algumas agências deficitárias instaladas em pequenos municípios, o que poderia causar prejuízo aos cidadãos destas cidades.
A privatização não é necessariamente o caminho mais correto para resolver todos os problemas, mas acaba sendo uma opção.
Devido à deficiência da máquina pública, é preciso reformular essa empresa para que se torne mais competitiva, tirando-a do poder estatal.
O grande problema, é que quando se tenta a privatização de empresas desse tipo, elas acabam retornando ao poder público porque o setor privado não se interessa em atender determinadas demandas não lucrativas, como atender comunidades isoladas e prestar serviços que só os Correios fazem, como a entrega de medicamentos.
Após a venda, a controladora pensa muito em gastos e uma das medidas mais comuns é o fechamento de pontos de atendimento em locais mais longínquos por causa do custo do frete, o que causaria, muito provavelmente, um desabastecimento de informações e serviços nessas regiões.
Nesse sentido, vejo que a privatização dos Correios pode se encaminhar de uma forma equivocada. Acredito que um dos caminhos é aumentar o leque de serviços, como ocorre na Europa, em que o Correio é um posto bancário.
Entre os fatores que impactaram na evolução da empresa, que viveu seu auge de eficiência e qualidade entre os anos 70 e 90, está o avanço da internet na vida das pessoas que, aos poucos, substituiu antigos hábitos.
De 1995 para cá, tivemos a inserção da internet, que tomou proporções muito grandes na sociedade: a postagem de cartas foi substituída por e-mail e, depois, com o advento dos smartphones, praticamente toda a troca de mensagens se dá por esse novo meio com os mais diversos aplicativos e recursos até para envio de documentos.
Simultaneamente, os Correios migraram gradativamente para o e-commerce, mas com a concorrência de empresas internacionais.
Um dos fatores de maior impacto numa eventual venda da estatal é a gestão dos trabalhadores da companhia.
As regras para evitar uma demissão em massa dependerão do acordo que será celebrado.
Após a compra, padrões tecnológicos são implementados e outros investimentos voltados ao desempenho acabam levando a uma reformulação de quadros.
Os cargos nos Correios foram criados num modelo de empresa estatal. Não acredito que possa haver demissão em massa, porque a empresa precisa manter sua efetividade e para isso, sua estrutura. Mas uma grande readequação certamente virá.