Como fazer um teste de Usabilidade. Na startup onde trabalho estávamos em uma sinuca de bico: precisávamos testar o produto constantemente, porém eram muitos os obstáculos para testá-lo.
1º Problema: Agendamento
A mesma história se repetia com frequência. Convocar usuários por e-mail, agendar uma data, esperar e o usuário não aparecer. Fim. Alguns até davam satisfação. Os poucos testes que conseguimos fazer aconteceram na nossa sala de reunião. Esta ficava a mercê do (não) comparecimento dos usuários.
2º Problema: Bonificação
O produto em que trabalho acabou mudando. Não havia mais como bonificar os voluntários com créditos para utilizar no site, já que está feature acabou caindo. Não havia uma verba expressiva para bonificá-los em dinheiro. O que ofereceríamos agora além de um cafezinho?
3º Problema: Tempo
O tempo também era crucial: tempo para selecionar usuários no banco de dados, filtrá-los, enviar e-mail 1, e-mail 2… Os testes andavam mais devagar que o desenvolvimento do produto. Features eram lançadas sem feedback.
“Ah, ok então. Se der tempo a gente faz, porque afinal de contas, leva mesmo muito tempo e esforço.”
Além da frustração, era evidente que estávamos perdendo ao não fazer os testes. E muito. Precisávamos ver as pessoas utilizando nosso produto. Não era hora para testes remotos e pesquisas por e-mail.
Queríamos ver. Foi então que uma epifania pairou generosamente sobre nós… Lan house.
Lan House
Um local repleto de usuários (agendamento? há), com computadores e internet (espaço: resolvido), onde poderíamos bonificar os voluntários com horas para uso na própria lan house. No nosso caso, demos 3 suculentas horas (R$6) de crédito para cada um.
E o tempo de execução? Os testes duravam cerca de 20 minutos por pessoa. Logo, em 2 horas é possível colher cerca de 5 feedbacks, um número bem bom. Bem melhor do que usuários pingando no escritório durante a semana em diversos horários.
Bônus. Eles estão no espaço deles. Eles conhecem os computadores, as pessoas, o ambiente. É “quase” como estar em casa, logo há mais naturalidade em realizar uma tarefa que não é lá tão cotidiana.
Bônus 2. Não é preciso esquentar a cuca pra preparar coffee-break.
Um ponto que deve deve estar pensando agora: o público. As lan houses não são mais um ecossistema de adolescentes como eram há uns 10 anos. O público é mais diverso, você pode selecionar conforme a demanda do projeto. Não deixe que este ponto te desanime. Frequente uma lan house e veja. Ver estas pessoas utilizando seu produto pode te dar insights valiosos.
Os resultados foram revigorantes. Tivemos feedback rápido, barato e conseguimos incluir os insights no ciclo do projeto. Além disso, foi válido para aprender a falar com pessoas de um jeito diferente. Abaixar a bola e ouvi-las.
Como organizar este teste
1. Escolha uma lan house.
Ligue para o responsável e explique a razão do teste. Seja franco. Ele vai gostar de saber que a empresa dele é uma solução para você. Vai gostar mais ainda de saber que você vai pagar horas de crédito dos usuários (e os minutos do teste) pra ele. Agende uma data.
2. Faça o roteiro do seu teste.
Se você ainda não tinha o roteiro, essa é a hora de montá-lo. Se você é novo nisso, essa é a hora de saber que existem basicamente dois tipos de teste.
? Teste de percepção. O que vale é o que a pessoa diz. Você vai perguntando para a pessoa o que ela acha do seu produto. É interessante para medir a percepção da marca e eficiência da comunicação, não a usabilidade. Por não ter um repertório técnico, os usuários sentem dificuldade em traduzir os problemas de usabilidade de forma clara, por mais que tenham sentido um desconforto em algumas ações.
? Teste de comportamento. O que vale é o que a pessoa faz. Você dá tarefas e observa como a pessoa executa. Clicou no lugar certo? Demorou muito tempo pra entender? Fez um lance nada a ver? Então.
Este é o básico. Veja aqui diferentes tipos de testes e seu uso.
3. Abordagem
Ao chegar na lan house, combine como será feita a abordagem com o responsável pelo estabelecimento. Ele mesmo pode encaminhar as pessoas para você. Ou você pode abordá-las quando elas chegam ou saem do ambiente. Explique sobre o teste e a bonificação. Coisa simples.
4. Registrando
Dificilmente você conseguirá permissão para instalar um programa que grave a tela do usuário. Seja enxuto: leve um bloco de anotações e um aplicativo para gravar voz/vídeo. Deixe o gravador ligado enquanto rola o teste. Foque em observar o seu produto sendo usado, anote o essencial.
5. Decupando os resultados
Ouça/veja as gravações e junte com os insights que você anotou. Monte um pequeno relatório com este conteúdo e compartilhe com seu time. Não precisa caprichar muito no “entregável”. Nesta etapa você vai perceber que o mais importante já foi feito. A partir disto vocês poderão tomar decisões sobre melhorias ou inovações.
No final, faça uma auto-avaliação. Ouça como você conduziu o teste e pense em maneiras de melhorá-lo, misturando testes, falando mais devagar, tentando coisas novas. Ah, e aproveite para já agendar o próximo.
Moral da história: desenhamos para pessoas.
Que o primeiro e o último passo de cada projeto seja sempre ouvi-las.
E que ouvi-las seja sempre um prazer.
1 Comment
Willian, que hacker que você é rsss. Essa da lan house ainda não tinha ouvido mas sem dúvida é um ótimo lugar para realizar testes se você tem tempo e um pouco de coragem. Deixo com vocês a dica do http://www.testaisso.com.br que automatiza o processo que você descreveu com testes modelos, recrutamento, gerenciamento de testes online. Realmente focar na experiência do usuário ainda é um mistério para muitos e você facilitou bastante o entendimento desse recurso. Um abraço e parabéns pelo post.