Em meio a atual crise mundial causada pela covid-19, muitas empresas enfrentam um momento delicado, que exige adaptação para seguir e foco na recuperação do que porventura possam ter perdido como receita, cliente, serviço, demanda, mas também engajamento de time, controle de processos e resultados.

Frente ao cenário, uma mudança veio para ficar: o trabalho remoto.

Antes, muito questionado quanto à eficiência, hoje, a prática tem se mostrado viável e promete mudar em definitivo a forma como entendemos uma prestação ou execução de um serviço.

Por isso, vejo no mercado uma dicotomia: enquanto algumas empresas ao redor do mundo planejam o home office “pra sempre’, o fim dos escritórios físicos, e a possibilidade de contratar para a equipe profissionais de qualquer parte do planeta, selecionados muito mais por competência e não por quesitos como “morar próximo do trabalho”; em outras companhias, lideranças ainda se sentem completamente perdidas.

Pelo menos é o que mostra uma pesquisa recente do The Center For Transformative Work Design, que evidencia o quanto que esse momento de pandemia tem causado certo impacto na confiança dos gestores, pois não acreditam no gerenciamento virtual e assim, tendem a monitorar mais funcionários e deixá-los ansiosos.

Confiança é talvez um dos valores mais complexos quando o assunto é gestão de pessoa, portanto, jamais se estabelece por meio de processos praticados a fórceps apenas porque o contexto assim determina.

Um empresa pode ter os mais complexos sistemas de gestão, de controle de produtividade, de processos na nuvem e o que mais a tecnologia permitir e ainda assim não resolverá a questão da confiança porque ela se constrói. Não se compra e nem se implanta.

Deriva de relacionamento, da força de um líder em inspirar, unir, de se fazer respeitar e conseguir tirar o melhor de cada um de sua equipe.

Saber liderar e conduzir um time para vencer qualquer adversário. Até porque essa não foi e nem será a única pandemia pelo qual o mundo passou ou vai passar.

Quando falo em liderança, uma conexão que gosto muito de fazer é com o esporte, ou melhor, com a relação entre técnicos e seus times.

Essa análise sempre me instigou porque é um desafio e tanto entender como é possível alguns atletas e times vencerem mais que outros.

Compreender por que alguns se recuperam mais fácil quando caem, enquanto outros sofrem tanto.

Levei mais de cinco anos estudando técnicos e atletas dos mais variados esportes, das mais distantes épocas da história, entre os mais diferentes países para concluir que apenas talento de um esportista não explica.

No esporte, os técnicos fazem toda a diferença para o sucesso de um time. E para se ter uma equipe de verdade, capaz de vencer, é preciso tempo, dedicação, estrutura e conhecimentos táticos-estratégicos.

Do mesmo modo que coachs treinam os atletas, líderes direcionam colaboradores da equipe. Só que coachs não acompanham os esportistas na prova real.

Assim como líderes não executam tarefas pelos membros do grupo.  Isso mostra como é importante tanto para técnicos quanto para líderes acompanhar cada processo e preparar sua equipe para todos os obstáculos, momentos de crise, e claro, alcançar vitórias.

É fundamental gerenciar todas as atividades que afetam o desempenho dos colaboradores, seguindo a premissa de que “é preciso jogar como se treina”. 

Como diz Bernar­dinho, do vôlei, “todos os esportes são coletivos, até os individuais”. O que difere um do outro é apenas o tamanho e a complexidade.

A jogadora de basquete Hortência, que foi campeã mundial com a seleção brasileira em 1994, reconheceu a relevância de um time em uma palestra quando afirmou que ela e seu time demoraram 18 anos para serem campeãs do mundo porque levaram esse tempo para entender que o mais importante era o trabalho de equipe, ou seja, a confiança em cada uma delas fazendo o seu melhor.

Ter um espírito de equipe sempre foi essencial para obter bons resultados e, consequentemente, para isso é preciso confiança entre todos.

Neste momento de crise, a união de um time mostra a força que exerce para manter a estrutura funcionando.

Ninguém prevê uma crise, seja ela na família, dentro de uma empresa ou até mesmo mundial.

Por isso, ter um bom líder e um grupo harmonizado, onde um ajuda o outro é o segredo para vencer os obstáculos e manter a qualidade e rendimento individual.

Os melhores técnicos do mundo seguem uma “cartilha” similar para compor um time altamente eficaz, congruente, forte e moldado pela confiança de que todos estão unidos pela mesma causa e prontos para encarar o que vier.

Tais coachs sabem que é primordial escolher atletas que se encaixem como em um quebra-cabeça. Providenciar que o grupo tenha um ou mais destaques individuais, mas mantenham real confiança uns nos ou­tros e que o vejam como líder, sempre respeitando-o.

Se essas regras valem em práticas esportivas com times de alta performance, vale também para líderes que querem um time “escalador” e capaz de gerar resultados.

Como diz a treinadora de basquete Pat Summit, time é aquilo que torna pessoas comuns capazes de gerar resultados incomuns.

Essa talvez, seja a melhor definição de trabalho em equipe no esporte e no mundo corporativo.

Porém, como em todo grupo, sempre tem um que se destaca mais que os outros, que passa a ser o melhor e reconhecido não só pelo líder, mas por todos. Assim, é importante que a liderança mostre para a equipe que as conquistas não dependem apenas daquele que se destaca.

Erroneamente, isso apenas vai contribuir para que essa pessoa de destaque adquira um ego sobre os demais.

Só que ele sozinho não consegue segurar uma equipe em meio a uma crise. O destaque dele é essencial, mas não fundamental.

Frente a essa situação no mundo dos negócios é que a força de um líder é preciosa.

Ele deve saber equilibrar seu relacionamento com o colaborador que se sobressai, não dei­xando se perder em seu próprio talento por conta do ego, de forma a prejudicar também os demais integrantes.

Tem de manter a estabilidade do grupo. Afinal, um time não pode ser composto apenas pelos melho­res; mas, sim, pelas pessoas certas.

Com incentivo, garra e espírito de equipe, não importa como está sendo a forma de trabalho, remota ou presencial, um líder seguro e estratégico confia em seus colaboradores, porque tem o respeito de seus liderados, e conduz o trabalho estruturado pela força de um time escalador mesmo em um momento de crise.

Author

O jovem tenista José Salibi Neto venceu muitos torneios. Mas, ao lhe garantir uma bolsa de estudos na Universidade da Carolina do Sul (USC), Estados Unidos, o tênis fez com que enveredasse pelo mundo dos negócios. Salibi cofundou a HSM, que se tornou a empresa líder em educação executiva, fez MBA na USC e seu nome é associado à introdução dos principais conceitos da gestão contemporânea por aqui. Hoje, como um dos maiores palestrantes do país e mentor de líderes, dedica-se a ajudar empresas e profissionais a atingir seu potencial máximo. É coautor dos livros Gestão do amanhã, O novo código da cultura e O Algoritmo da Vitória. Esse último, escrito ao lado de Adriana Salles Gomes que, embora não tenha sido atleta de alto rendimento, é torcedora apaixonada, jornalista formada pela Universidade de São Paulo (USP) e diretora editorial das revistas HSM Management e MIT Sloan Review Brasil. Entre seus livros anteriores estão os inovadores guias de viagem Fuja no Fim de Semana, Fuja de Casa com as Crianças, Fique em São Paulo e Fuja por um Ano – Sabáticos.

1 Comment

  1. Liderança não se mede por cargos e sim pelo interesse voluntário dos liderados em seguir. Diferentemente do chefe que normalmente anda, capacitar potenciais lideres é sinônimo de bom lugar para se trabalhar em equipe

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