Quem vende (ou compra) pela internet sabe que o frete é ainda um problema no comércio eletrônico brasileiro. Ele tem impacto direto na decisão de compra e satisfação do consumidor final.
Isso num país com aproximadamente 559.000 transportadores de cargas e 1.653.000 caminhões nas estradas, de acordo com a ANTT. Por que frete é um problema no e-commerce?
Os problemas são diversos, algumas das principais reclamações envolvem: altos preços, atrasos nas entregas, avarias, extravios e indiferença no atendimento ao consumidor final.
Neste post explico através de 4 perspectivas, o motivo de ainda enfrentarmos essas dificuldades em índices tão elevados no Brasil.
História
Apesar da vasta quantidade de transportadoras e caminhões rodando nas estradas é importante entender a origem e perfil dessas empresas. Em geral, elas são relativamente novas, com até 20 anos de idade, tendo muitas delas sua origem com ex-motoristas que empreenderam e criaram suas transportadoras.
Até então, trabalhavam num modelo operacional específico, voltado para um mercado que não muda drasticamente há muitos anos. Já pensou nisso?
Não faz muito tempo que as compras pela internet ganharam notoriedade, basta imaginar o que você comprava online 15 anos atrás.
Com a ascensão das vendas online, dois perfis de transportadoras se consolidaram nesse segmento: as que entregavam revistas e jornais e as especializadas em cargas urgentes, por terem um modelo de transporte com ampla malha de entrega e pacotes fracionados, similar ao e-commerce.
Inovação
O comércio eletrônico ainda é recente, principalmente no Brasil. Mesmo já apresentando números interessantes e crescentes, representa uma fatia muito pequena do varejo de produtos no país, algo em torno de 3.3%, segundo relatório Webshoppers da Ebit.
O frete no e-commerce está segregado entre transportadoras privadas e Correios. Basicamente as lojas virtuais maiores, trabalham com transportadoras, já as pequenas acabam tendo como única opção o Correios. O motivo disso está no volume de pedidos enviados mensalmente.
Para as transportadoras, o custo e deslocar veículos para coleta de poucos volumes é muito alto, o que reflete no preço para pequenas lojas virtuais. Como consequência, o valor do frete varia tanto entre uma varejista conhecida para uma loja vendendo através de marketplace, por exemplo.
Foco
O gerador de negócios das transportadoras estavam e, ainda está em muitos casos, em outros segmentos senão o e-commerce. A transportadora busca rodar com seus caminhões de forma mais cheia possível, elevando a taxa de ocupação, em virtude da conhecida relação de custo x volume x lucro.
Isso significa que operar carga lotação FTL – Full Truck Load (dedicada) pode ser mais interessante do que a fracionada LTL – Less than Truck Load. Ainda assim, existem muitas transportadoras que atendem cargas fracionadas. Nestes casos, geralmente transportam cargas entre indústria, distribuidores e ponto de venda.
Ainda que exista um fracionamento no frete, ele não é tão grande quanto no e-commerce. Uma coisa é entregar 50 pares de sapato num único ponto de venda, outra é entrega um par de sapato em 50 destinos diferentes. O fracionamento dos pacotes e a capilaridade da entrega impacta diretamente no modelo operacional.
Em torno de 80% do que se compra pela internet tem até 5Kg cubados, ou seja, são pequenos pacotes. As 5 categorias mais vendidas pelas lojas virtuais demonstram claramente: modas e acessórios, eletrodomésticos, livros e apostilas, cosméticos e telefonia.
Imagine quantas peças de roupas, liquidificadores ou livros são necessários para preencher uma carreta com capacidade de 25 toneladas e 100 metros cúbicos disponíveis. Uma alternativa para aumentar a taxa de ocupação e logo, manter custos unitários menores, seria consolidar cargas.
Em termos práticos, aguardar um pouco mais de tempo para encher o caminhão. Porém isso afeta o prazo de entrega ao consumidor final, que está cada vez mais curto.
As entregas em centros urbanos demandam um perfil de veículo diferente e em grande quantidade, normalmente os VUCs (Veículo Urbano de Carga) e utilitários, o que mais uma vez representa dificuldade para a maioria das transportadoras.
Tecnologia
Adicionalmente as dificuldades operacionais do frete para comércio eletrônico, está também a necessidade de tecnologia. A grande quantidade de pedidos sendo coletados e entregues diariamente demanda um volumoso fluxo de informações entre os envolvidos em tempo hábil.
Para isso, softwares de gestão (ERP e TMS/roteirizadores) e integrações sistêmicas são essenciais, tanto para o embarcador, nesta caso a loja virtual, quanto para a transportadora. Paralelamente a isso, os sistemas mobile disponíveis atualmente no mercado ainda apresentam limitações e falta de especificidade no e-commerce.
Embora não tenha abordado neste material, não podemos esquecer também dos problemas de infraestrutura e segurança, que convive quem atua com transporte rodoviário de cargas em nosso país.
Compreender o contexto do frete no e-commerce é essencial para avaliar soluções para os conhecidos problemas. A evolução do comércio eletrônico está acontecendo a ritmo mais elevado que o setor de transportes. O seu modelo operacional é um desafio logístico para as transportadoras.
Talvez uma disruptura seja necessária para atender a entrega dos pedidos num modelo ideal e específico para o comércio eletrônico.
Publicado anteriormente no blog da ASAP Log.