A vontade de abrir um negócio normalmente surge quando notamos que somos realmente bons em algo que fazemos, e possivelmente discordamos de regras e decisões seguidas como colaborador de empresa. Esse tempo investindo seu talento é realmente recompensador? Ou poderia proporcionar recompensas muito maiores com sua liderança?
O sentido-aranha de empreender normalmente surge pelos bons resultados de trabalhos e pelo profundo conhecimento técnico em uma atividade específica. Mas ao abrir um negócio, é necessário muito mais do que conhecimento genuíno na área. Conhecimentos em administração de empresas, legislação e até gestão de pessoas são, por exemplo, três dos fatores que podem limitar seus sonhos.
Portanto, a palavra-chave para um empreendedor prosperar é planejamento.
Sem um planejamento adequado você dificilmente conquistará avanços significativos em um negócio. Alguns dos principais passos para a montagem do seu plano de negócios, com base no conteúdo do Sebrae são: pesquisa de mercado, posicionamento de produto/serviço, plano operacional e plano financeiro.
Minha intenção neste texto é falar sobre a primeira etapa, mais precisamente sobre como definir o nicho de mercado adequado para iniciar uma nova empresa (ou investir nela, por que não?).
Afinal, além da vontade de ter o próprio negócio, um empreendedor precisa ter a certeza de que sua empresa resolve um problema real de consumidores/clientes/usuários, que outras não estão conseguindo, correto?
Como escolher a melhor área para abrir empresa
Sendo assim, não basta muita habilidade e conhecimento técnico dentro da área, é necessário entendimento do mercado, e sobre quais são os pontos mais fracos que você pode solucionar.
Um caminho bom, é entender que áreas são melhores para abrir sua empresa e encontrar um nicho de atuação com demanda maior, aumentando consideravelmente suas chances de sucesso. Afinal, começar um pequeno negócio para enfrentar empresas gigantes, bem estruturadas e com reputação de marca pode ser desleal.
Qual a melhor maneira para escolher a área? Entendendo quais produtos e serviços estão sendo mais consumidos, e mais do que isso, quais tem maior crescimento pode ser um bom caminho. O crescimento de faturamento pode ser um indicativo valioso de que determinada área tem um potencial grande para nova empresas.
Olhando por outro viés, uma categoria que ainda não cresceu adequadamente perante outras pode concentrar até mais oportunidades para novas empresas. A Ebit | Nielsen fez uma análise de demanda reprimida no e-commerce cruzando a população do Nordeste com o número de pedidos no e-commerce e no varejo, por exemplo.
A análise precisa ser ampla e considerar quantos pontos forem possíveis. Encontrar informação disponível é o grande desafio.
Gráfico do Webshoppers 39 – Ebit | Nielsen, de março de 2019
Destaco o comportamento do consumidor no e-commerce, pela facilidade de acesso às informações do segmento. No varejo físico, por exemplo, é mais complexo conseguir dados de mercado.
Categorias do e-commerce com mais vendas e maior crescimento
Para entender as áreas mais promissoras do país, um dos caminhos é analisar estudos de mercado publicados por empresas da área. A Ebit | Nielsen, por exemplo, semestralmente (desde 2001), divulga estudos sobre o mercado de e-commerce no Brasil. Dentro deste estudo, temos as categorias mais vendidas e crescimento de cada uma delas. São estes dados que mais nos interessam aqui.
Os dados abaixo mostram as categorias com maior faturamento e números de pedidos em 2017 e 2018 no e-commerce do Brasil.
Em ordem de faturamento temos, Eletrodomésticos, Telefonia e Celulares, Casa e Decoração, Informática e Eletrônicos. Das 5, 4 concentram produtos com um ticket médio maior, produtos principais de gigantes multimarcas brasileiros, B2W, Via Varejo e Máquina de Vendas, por exemplo, lideram na maioria delas.
Em número de pedidos, temos em ordem, Perfumaria, Cosméticos e Saúde, Moda e Acessórios, Casa e Decoração, Eletrodomésticos e Livros/Assinaturas e Apostilas. Algumas delas merecem destaque:
Moda e Acessórios, 7° lugar em faturamento com 5,6% de share em 2018 e 2° em pedidos com 13,6% de share, dentro de Moda e Acessórios, temos roupas e calçados como principais itens, grandes lojas como Hering, C&A, Dafiti, Amaro, Netshoes, Centauro, Nerdstore e muitas outras.
Só pelas marcas lembradas, é possível ter uma ideia da força da categoria que conta com um ticket médio de R$169 no primeiro semestre de 2019. Aqui temos oportunidades de novos negócios para lojas de camisetas de nicho ou lojas de acessórios artesanais. Sempre lembrando de escolher um público bem especificado dentro da área.
Perfumaria, Cosméticos e Saúde, 1° lugar em número de pedidos e 6° em faturamento, antes, era mais comum encontrar nesta categoria lojas como a BelezanaWeb, Boticário e Natura com mais força. Mas, acredito que a estabilização dos e-commerces de farmácia engrossam bem a lista de vendas da categoria, Raia Drogasil, Drogaria SP, Onofre e a Pague Menos são as mais fortes.
O ticket médio da categoria foi de R$197 no primeiro semestre de 2019. Aqui, as oportunidades ficam para produtos orientados para estilo de vida saudável.
Alimentos e bebidas, uma das áreas mais promissoras dos últimos anos. Rappi e iFood simplificaram o modo de pedir comida à distância. Algo que antes era concentrado quase que apenas em fast-food, hoje conta com uma grande variedade de opções e até todas as compras do mês em supermercados.
O mercado de bebidas também tem bons players, como a Wine e o Empório da Cerveja. Assim como aconteceu com as farmácias, o e-commerce do Pão de Açúcar, principalmente, dá força ao segmento. Oportunidades para serviços de marmitas, comida feita em casa, fitness e sucos podem trazer novos empreendedores.
Outro dado interessante para se considerar também são as subcategorias com maior frequência de compra, as subcategorias que concentram mais compras frequentes geralmente contam com um ticket médio menor, porém o fluxo de caixa mais constante pode significar uma tranquilidade maior para a gestão do negócio.
As subcategorias com mais compras nos primeiros seis meses de 2019 são Alimentos e bebidas (que ganhou muita força com iFood e Rappi), Papelaria e escritório, Petshop, Livros e Flores. Do outro lado, a frequência menor fica para Telefonia e Celulares, Sexshop, Moda e Acessórios, Fotografia e Instrumentos musicais.
Economia compartilhada
Os serviços de economia compartilhada, que dividem o uso de produtos e serviços entre os usuários, têm trazido real inovação para o comportamento do brasileiro, principalmente nas grandes cidades. Uber, Airbnb, e Yellow (com bicicletas e patinetes) são apenas algumas das incríveis opções que podem mudar o estilo de vida das pessoas.
Em São Paulo, por exemplo, as facilidades das bicicletas, patinetes e até o Uber agregaram opções e facilitam a vida de muitas pessoas que sofrem com deslocamento e transporte público limitado. A geração Millenium, por exemplo, já tem um comportamento bem diferente quanto à dirigir. A tendência é que, cada vez menos pessoas tenham carro.
Este mercado não para aí, aluguel de guarda-chuvas por exemplo, já é algo comum em São Paulo. Segundo a PwC, o mercado de economia compartilhada deve movimentar mundialmente U$ 335 bilhões em 2025.
A análise correta das principais “dores” da sociedade trouxeram ideias simples que puderam contribuir com soluções eficientes. O patinete, por exemplo, surgiu na década de 60, quem diria que se tornaria uma solução moderna de um problema de deslocamento?
Resolva um problema
A solução que você tanto procura pode estar mais perto e acessível do que você imagina. Pense em problemas reais que você enfrenta no dia a dia ou quando está tentando realizar alguma atividade.
As ideias surgem onde você menos esperar, pode sim ser no banheiro, mas elas podem aparecer pela necessidade de encontrar um hotel, um passeio, em ir para o trabalho, contratar um serviço ou ao tentar encontrar uma informação.
Caso você esteja enfrentando dificuldades, provavelmente outras pessoas também estão. Você poderia resolver isso com seu negócio? Mãos à obra.
Outra boa ideia é pesquisar sobre tendências de outros países. Bons negócios estão acontecendo por todo o mundo e ainda não chegaram ao Brasil. Seria viável “trazer a ideia” para cá?
Mercado de Fintechs
O mercado de fintechs no Brasil está aquecido, os serviços financeiros proporcionados pela tecnologia trazem hoje o maior interesse de investidores e novos empreendedores. Repensar a maneira que se usa o banco, pagamentos e como investir dinheiro trouxe nos últimos dois anos a atenção e o tempo de muitos empreendedores.
Dados da Associação Brasileira de Fintechs, em um estudo de 2018 em parceria com a PwC, identificou que só no Brasil, mais de 370 startups estão atuando neste mercado.
Não por acaso, grandes empresas, já digitais, têm se reinventado para também oferecer soluções financeiras, geralmente focadas em pagamentos e custódia.
Como abordamos neste post, gigantes como Google, Facebook, Apple, Mercado Livre e Uber disponibilizaram esforços e muita atenção para a área. A chinesa WeChat hoje é um dos principais exemplos de super app com sucesso na área.
Pensando no mundo dos mortais, empresas menores também ganham destaque. A PicPay é uma que ganhou bastante projeção este ano, com um aplicativo de intermediação de pagamentos, permite enviar e receber dinheiro, pagar boletos, estabelecimentos, serviços online e muito mais.
Dentro do mercado de fintechs ainda podemos citar inúmeras empresas extremamente promissoras: QuintoAndar (aluguel de imóveis), Creditas (empréstimos online), Nubank, Inter, Next, Original, C6 e Neon (bancos digitais), SmarttBot (automação de trading) e Nox Bitcoin, Mercado Bitcoin, Foxbit e BitcoinTrade (de serviços de investimentos em bitcoin e criptomoedas).
Seria impossível citar todas, para se ter uma ideia, o Fintechlab elaborou o infográfico abaixo com o Radar das fintechs brasileiras em agosto de 2018, imagine só o número de empresas que já poderiam ser adicionadas à esse radar…
Pronto para dormir pouco e não ter mais tempo pra nada?
Note pelos pontos levantados acima que existe um grande quebra-cabeças apenas para escolher onde começar. Mesmo encontrando uma área extremamente promissora, onde você tem habilidades que podem agregar e trazer um diferencial sobre a concorrência, isso é só o começo.
Entender de maneira detalhada tudo que envolve operacional e financeiramente um negócio será uma etapa igualmente complexa. Tenha em mente também, que principalmente no início, as tarefas devem ser quase todas suas, sejam as que você tem mais afinidade ou não.
Procure por um negócio que realmente tenha um diferencial. E lembre que atendimento de excelência, faz parte apenas da obrigação.
Texto publicado anteriormente no Investificar.
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