Em 2016, uma reportagem sobre a crise econômica brasileira publicada pelo jornal “O Estado de S.Paulo” – que tinha como entrevistada a professora Mary Paula Arends-Kuenning, PhD em Economia pela Universidade de Michigan, mostrava que crises são momentos para avaliar o que está funcionando e o que não está. A conclusão era que, nessas horas, as pessoas ficam mais dispostas a mudanças.
Ao refletir sobre essa declaração, podemos acrescentar que a crise representa uma oportunidade para os empreendedores. Quando a economia vai bem, as pessoas costumam se sentir mais confiantes com a aparente estabilidade financeira e gastar mais em bens de consumo. Na outra ponta, é possível perceber o crescimento da entrada de novas empresas no país, o aumento da linha de crédito, o investimento em mão-de-obra, entre outros. Por estratégia ou por política interna, algumas preferem ficar na zona de conforto, pois “em time que está ganhando, não se mexe”.
Já quando uma recessão econômica bate à porta, uma espécie de “seleção natural” entra em cena. As empresas são obrigadas a fazer milagres, procurando reduzir os custos de sua operação para não afetar o tíquete médio de seu faturamento. Funcionários, que também são consumidores, perdem os empregos e reduzem os gastos com itens que não são prioridade. Em alguns casos, até se desfazem de seus bens duráveis e semiduráveis para poder pagar as despesas fixas do mês.
Oportunidade na crise
Tudo o que foi comentado acima, provavelmente já faz parte de sua realidade, correto? Mas calma, nem tudo é drama, pois é nesse cenário que pode começar uma nova fase para o empreendedor, aproveitando-se de oportunidades e mudando sua forma de atuar no mercado.
De acordo com o primeiro relatório Webshoppers divulgado pela Ebit em 2017, o e-commerce foi considerado um setor que está indo na “contramão” da crise econômica, sendo visto por especialistas como um mercado “blindado” que deve crescer 12% em 2017 (números do Webshoppers, Ed. 35).
Webshoppers 35: E-commerce fatura R$ 44,4 bilhões em 2016, com alta de 7,4%
Aliás, isso se dá também por conta de alguns fatores característicos da crise, como por exemplo: ao ter uma renda mensal mais limitada, o cliente tende a pesquisar muito mais antes de finalizar uma compra. E onde ele geralmente faz isso? No Google. Além de economizar o seu precioso tempo em fazer essa pesquisa, ele deixa de gastar com transporte público ou combustível. Ponto para o e-commerce!
Além disso, as compras online também têm interessado muito aos consumidores por conta dos prazos facilitados e, muitas vezes, preços menores.
Claro que podem existir empresas online que não tem visto o atual cenário com bons olhos, e por isso é necessário avaliar o que está certo e o que está dando errado nas estratégias, em quatro etapas:
Diferenciais
Ao comandar uma loja virtual em tempos de crise, um dos fatores fundamentais para o seu sucesso será apostar em “armas” que a concorrência não tem.
Não importa se a estratégia utilizada será abaixar os preços, fornecer um atendimento ainda mais diferenciado ou aumentar o prazo de pagamento. O objetivo é ser diferente.
Ao se colocar no lugar do cliente, o empresário deve enxergar o mundo com a ótica de um consumidor. Dessa forma, será possível entender as “dores” do cliente e compreender qual é o fator que mais pesa no momento de efetivar uma compra.
Crise como aliada
Outro aspecto que muitos empreendedores acabam esquecendo é que, assim como o mercado ficou mais escasso para eles, o mesmo aconteceu para seus fornecedores e parceiros.
Enquanto em tempos de abundância os seus fabricantes e distribuidores geralmente têm diversos e-commerces e lojas físicas esperando para comprar produtos, na crise essa demanda diminui, o que aumenta naturalmente o poder de barganha dos pequenos e médios empreendedores.
Além da possibilidade de diminuição de custos em relação aos fornecedores, o cenário econômico desfavorável também serve para contratar melhor: muitos talentos estarão disponíveis no mercado a preços muito menores que os cobrados em outras épocas. Aproveite para contratar, delegar e crescer!
Menos concorrentes
Um cenário macroeconômico difícil gera, naturalmente, um mercado com uma concorrência menor. Quando a situação é desafiadora, não há espaço para o “amadorismo”: ou a operação se profissionaliza e passa a ser vista como um negócio de verdade, ou ela quebra. Nessas horas, não existe meio termo.
Sendo assim, a tendência é a de que, a longo prazo, somente empreendedores habilidosos e resilientes continuem no jogo — e isso facilita a vida principalmente de quem vive batalhando em mercados com forte “guerra de preços”.
Amplie a qualificação
Não tenha medo da crise, busque aprender com ela. Cenários difíceis fazem crescer por um motivo simples: eles impulsionam a necessidade da mudança.
O empreendedor e palestrante americano Jim Rohn ensina a não pedir que o problema seja menor, mas sim que você seja melhor. E é exatamente aí que está o segredo!
Não espere para criar uma empresa quando as coisas estiverem “calmas”. Ao invés disso, inaugure uma nova empresa que seja resistente o suficiente para lidar com as turbulências, que são características do empreendedorismo.
Tente não fugir dos tempos difíceis, e sim aprender e crescer com eles.